Faz sentido uma Cultura de Públicas?

Pedro Henrique Bianchi Campo de Públicas, Cultura 1 Comment

Quando o escritor Luiz Ruffato lançou “Estive Em Lisboa E Lembrei De Você”, em 2009, e o livro falava da ida de um brasileiro para Portugal em busca de trabalho, ficou uma coisa esquisita:

A questão debatida era que o livro seria anacrônico, pois as pessoas estavam voltando para o Brasil. Um segundo depois na perspectiva histórica, menos de 10 anos, o livro já estava absolutamente atual.

Me parece desapropriado agora refletir sobre cultura no Campo de Públicas. Profissionalizar a gestão pública já é um grande desafio, como falar de cultura para uma área desacreditada?

Bom, é a minha hipótese. O melhor desenvolvimento do nosso Campo e, consequentemente, do serviço público no Brasil, está intimamente atrelado a uma ideia a ser explorada de “cultura de públicas”.

A imagem abaixo é uma montagem que fiz com dados colhidos no site da FENECAP (Federação Nacional dos Estudantes do Campo de Públicas), e a imagem Governo, de Elihu Vedder (nova iorquino, nascido em 26 de Fevereiro de 1836), popularizada em nosso meio, creio eu, graças ao blog do Campo de Públicas, feito por vários colaboradores – professores, coordenadores, alunos etc.

Mapa dos cursos de Públicas no Brasil. Elaboração própria.

Notem a distribuição dos cursos de Públicas em boa parte do território nacional, com alguma extensão no interior, fora dos grandes centros. É notório, porém, a escassez na maior parte dos Estados, sobretudo do Norte e Centro Oeste.

Interessante ressaltar a oportunidade em relação à modalidade de acesso, tanto presencial quanto à distância, e ambas em Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas.

O fato de haver uma distribuição parecida entre as modalidades e tipos de IES ajuda na abrangência requerida para se falar em uma “cultura” do Campo. Ou, passos atrás, pontos em comum em diferentes locais. É assim com outros campos e áreas do conhecimento.

Jogos universitários, congressos, programas de imersão e outros podem ser exemplos para o fortalecimento de uma cultura, ou a “sopa primordial” para tal, dentro do grande mosaico formado pela produção cultural (intencional ou não).

Fato é que a cultura está aí, e antecede qualquer organização que se exija para ser contemplada ou concebida.

Poderíamos dizer dos congressos ou qualquer tipo de reunião acadêmica entre os cursos. Porém, a observação dos elementos culturais seria mais tímida. As manifestações que se observa na dinâmica do esporte, do lazer, do intercâmbio de valores entre estudantes e pesquisadores livres das formalidades próprias dos eventos acadêmicos podem suscitar mais insights.

De todo modo, há pontos suficientes no mapa para se falar em uma Rede de Públicas. De maneira organizada em termos de ensino e pesquisa, a ANEPCP – Associação Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas, tem um importante protagonismo (vale muito a pena conferir os conteúdos do site).

Para citar um exemplo de movimentação da rede, juntamente com a ANEPCP, outras sete organizações assinaram carta contra a PEC 32/2020, da chamada Reforma Administrativa.

Logos das citadas organizações

São elas: SBAP – Sociedade Brasileira de Administração Pública, RGS – Rede de Pesquisadores em Gestão Social, APB – Divisão Acadêmica de Administração Pública da Associação Nacional de Pós- graduação em Administração (ANPAD), FENECAP – Federação Nacional dos Estudantes do Campo de Públicas, Pro Pública Brasil – Associação Nacional dos Profissionais do Campo de Públicas, ANPOCS – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais e ABRI – Associação Brasileira de Relações Internacionais.

Qual a força dessa carta? Digamos que eu seja um inserido no Campo, e mesmo assim a carta não chegou até mim: quantos estudantes e professores dos cursos de Públicas a leram? Qual tem sido a nossa abrangência de trocas entre as IES nos pontos colocados no mapa acima? E a parcela do Campo que é a favor da Reforma, está organizada? Dentro do ethos do Campo, a PEC 32/20 faz sentido? Nós temos um ethos?

Ampliando o escopo, o Campo é capaz de influenciar as eleições desse ano de 2022? Ou somos alguns poucos organizados que conservamos uma distância da sociedade e só funcionamos e interagimos dentro de nossas fronteiras?

Em termos ideais, ter uma cultura de públicas seria ter uma rede de organizações e pessoas compartilhando valores democráticos em movimento constante. Talvez os aspectos inerentes à profissionalização não sejam capazes de dar mais vida, por si só, ao Campo e fazer com que ele circule como coisa viva, que responde aos acontecimentos de nosso Estado e nossos Governos.

Pode ser precipitado responder ao título do artigo que “sim, faz sentido termos uma cultura de públicas”. O que nos resta, então? Fomentar? Descobrir? Criar? Talvez também não importe. O que importa é falarmos do Campo, sua valorização e importância para um país melhor.

Tenho lido e pensado sobre isso. Conforme a possibilidade, irei postando algumas reflexões. Caso queria compartilhar sua visão, sinta-se convidado a me escrever e trocamos ideias. Até breve.

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